O mercado imobiliário em Portugal tem sido marcado, nos últimos anos, por uma forte tendência de crescimento e de profundo aumento de preço. É nas principais cidades, com Lisboa e Porto à cabeça, que se verifica o maior aumento do valor por metro quadro. Uma tendência que os especialistas do setor prevêem que se mantenha este ano. Os fatores por eles apontados são, acima de tudo, o custo do dinheiro, tanto para quem investe na promoção imobiliária como para quem tem de se financiar para comprar casa, e, por outro lado, a inflação em geral, que continuará a limitar o poder de compra, para além de condicionar o custo de produção. A estes somam-se ainda a falta de algumas matérias primas e o seu elevado custo.
Quer no setor imobiliário comercial, quer no residencial, a falta de oferta no mercado é considerada transversal a quase todos os segmentos de atividade, segundo os analistas. Nesse âmbito, os escritórios e também a logística deverão ser os segmentos mais dinâmicos num ano que será marcado pela incerteza. Já no mercado residencial entram ainda em conta o aumento das taxas de juro nos créditos à habitação. Isto pode provocar alguma cautela na compra, especialmente pelas famílias portuguesas de classe média.
Luxo continuará em alta
No segmento da habitação de luxo há um sentimento que continuará a moldar o comportamento dos promotores imobiliários: a certeza de que há um mercado — sobretudo sustentado na procura vinda do estrangeiro —, que continuará a crescer, independentemente dos preços que se venham a praticar.
Lisboa, Porto e outras cidades continuarão a ser procuradas por investidores estrangeiros e nómadas digitais. Além destes existem também os que procuram o país não só pelas vantagens fiscais que proporciona, mas também pela segurança em tempos de guerra. Porém, alguns especialistas consideram que este contingente não é elástico e não irá durar para sempre.
Apesar de tudo, existe a convicção de que há realmente uma enorme franja da população que precisa de casa, mas para a qual nunca será fácil construir. Isto acontece tendo em conta os rendimentos limitados das famílias, a inflação generalizada de preços e a incerteza quanto às taxas de juro e à continuação dos elevados custos de contexto. No entanto, estes poderão encarecer o custo do metro quadrado, com as famílias a adiarem a decisão de compra de casa ou a escolha de habitação fora dos centros urbanos.
Burocracia como entrave
A morosidade imposta nos licenciamentos dos projetos imobiliários continua a ser outra das principais vulnerabilidades do setor. Quem o diz são sobretudo os promotores imobiliários que vêm os projetos a demorarem anos, se não décadas, a ser aprovados por diferentes entidades. Um fator que, afirmam contribuir para a falta de ofertas em cidades como Lisboa, ou para o preço do metro quadrado depois de vários anos de investimento parado.
A verdade é que, apesar de todos os defeitos que se possam apontar, não faltam projetos a nascer, sejam eles na habitação ou no turismo. Um exemplo do dinamismo do setor é a previsão de que em 2023, deverão ser inaugurados 75 hotéis e quase 6000 novos quartos.